E eis que chegou o dia grande da minha vida! Faço hoje 42 anos de abstinência alcoólica. Há 42 anos dava entrada no Centro de Recuperação de Alcoólicos de Coimbra (CRAC). Dia 22 de abril de 1980…Este dia tem para mim mais significado do que o meu aniversário. Neste dia renasci. Foi o dia em que me consegui libertar do meu maior inimigo: o Álcool. Aquele que me tornou num verdadeiro farrapo humano! Aqui, na cidade que me viu nascer, a minha Guarda, só tinha três portas abertas: a Esquadra da Polícia, o Hospital e o Tribunal. Após ter feito a minha desintoxicação durante três semanas de internamento, aprendi, com aquela grande Equipa, que o Alcoolismo era uma doença que não tinha cura mas sim uma abstinência. Acreditei e vim para a minha cidade com uma vontade tão grande de gritar a toda a gente que me pudesse ouvir que era um Alcoólico Tratado… Dar a cara, não esconder…foi a minha principal muleta, aquilo que me deu a força de que precisava! Alguns queriam que eu fosse um Alcoólico Anónimo, mas eu quis que todos soubessem que já não era o ‘Brito’ de outrora. Quis dar a CARA. E assim comecei aquela que acredito ser a minha missão na terra: AJUDAR o próximo! Comecei a ajudar as pessoas mais degradadas da cidade…o primeiro doente que ajudei dormia no meio de 12 cães…A partir daqui nunca mais parei.3 anos depois, há quase 39 anos nascia aquele que nunca pensei ser possível: o Centro de Alcoólicos Recuperados do Distrito da Guarda! Depois dele, ajudei a fundar outros grupos de interajuda a nível nacional. Sei que fui um pioneiro….Para muitos era pessoa não grata pois, tirava os clientes às tabernas e os doentes às clínicas privadas…Resisti… Ninguém conseguiu tirar-me o sonho!Espero, dentro em breve, deixar em livro todas estas memórias…E são tantas. Quão difícil foi por vezes! Quantas lágrimas…Mas quantos sorrisos também! Hoje, dia 22 abril, faço 42 anos de abstinência. É um dia grandioso, um marco na minha vida. Quero aqui enviar um Grande Abraço às duas pessoas que, para mim, foram as maiores impulsionadoras desta recuperação: a Dra. Maria Lucília Mercês de Mello e a Dra. Henriqueta Frazão. Mas também, à Dra. Beatriz Pena que me encaminhou para o CRAC. Uma vénia para estas Senhoras… E também a toda a equipa que me acompanhou nesse período…alguns já partiram mas guardo-os no coração. Quero dar uma palavra de gratidão: ao meu irmão José Manuel e à minha cunhada Otília, foram eles que nesse dia, 22 de abril de 1980, me levaram para Coimbra, após uma tentativa de suicídio e aos meus filhos Roberto e Carla que, sofreram com o meu alcoolismo.
Abraço todos os meus amigos de coração